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PT apodrece na corrupção e é varrido do mapa político

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

Partido sofre a pior derrota eleitoral de sua história, perde 50 milhões de votos e vê a narrativa do golpe ser rejeitada pela população. Tenta juntar os cacos para sobreviver, mas se depara com um horizonte sombrio: virou uma sigla nanica, repudiada por seus crimes em larga escala

Como se iluminada por algum dom divino capaz de decifrar os corações e as mentes dos brasileiros, a narrativa petista produziu algumas certezas nos últimos tempos. A mais marcante delas: a de que a periferia das grandes capitais e os grotões do Brasil, ainda inebriados pelos anos de inclusão social e crédito fácil, haviam fechado os olhos à corrupção institucionalizada pelo PT e estavam ao lado do partido para o que desse e viesse. Por isso, o tilintar das panelas durante os panelaços de abril, segundo essa mesma tese, só ecoavam das varandas gourmets e as manifestações que inundaram ruas e avenidas do País só poderiam estar apinhadas de bem-nascidos e de defensores da meritocracia – “mas que receberam tudo na vida de mãos beijadas”, claro. Em sintonia com esse mesmo raciocínio, as camadas mais pobres da população só poderiam ter achado o impeachment de Dilma Rousseff um golpe contra a democracia e um atentado aos anseios eleitorais desse mesmo estrato social. Puros sofismas destinados a encantar inocentes, muitas vezes úteis. As certezas convenientes da narrativa petista desabaram como castelo de cartas no último domingo 2, na esteira da apuração do primeiro turno das eleições municipais. O povo brasileiro, periferia incluída, não só reprovou o PT, como varreu a legenda do mapa. O Brasil real, – aquele que acorda cedo, enfrenta trânsito, ônibus lotado, e depende dos serviços básicos de saúde, educação e segurança, – praticamente enterrou o partido – e, por tabela, a falácia do golpe.

Quantitativamente, foi a mais acachapante derrota sofrida pelo PT em décadas. Simbolicamente, porém, pode-se afirmar, sem medo de errar, que foi o pior revés eleitoral da história do partido. Senão vejamos. Os números são eloquentes. Ao eleger apenas 256 prefeitos, 60% a menos do que há quatro anos, o partido caiu vertiginosamente de terceiro para o décimo lugar no ranking geral, ficando atrás do DEM, partido dado como morto num passado recente, e do recém-criado PSD. Se contabilizados apenas os votos para prefeito, o PT perdeu mais de 23 milhões de eleitores. Caiu de 27,6 milhões para 4,4 milhões. Já se for incluída a eleição para vereador, o partido da estrela rubra viu 50 milhões de votos evaporarem somente no domingo 2 – quase o que a presidente deposta Dilma Rousseff recebeu nas eleições de 2014. O placar eleitoral em Osasco (SP) é emblemático. No município que já foi um dos mais fortes redutos eleitorais da legenda, o PT não elegeu um vereador sequer. Um desastre completo. Na disputa pela prefeitura, Valmir Pascidelli (PT) ficou em quinto. No Nordeste, até outro dia quintal do PT, o partido não elegeu prefeito em nenhuma capital até agora – o partido reúne chances apenas no Recife, com João Paulo (PT), que na reta final alcançou o segundo turno e vai enfrentar o favorito Geraldo Julio (PSB).

Em São Paulo, o petista Fernando Haddad, além de ter perdido para o tucano João Doria no primeiro turno, registrou o pior desempenho de um candidato da sigla na história da cidade. Ao receber apenas 16,7% dos votos, superou o recorde negativo de Eduardo Suplicy em 1985. Na ocasião, o petista figurou com 19,75%. Em São Bernardo do Campo – governada por Luiz Marinho (PT) e berço político de Lula – o candidato da legenda, Tarcicio Secoli, não conseguiu ir para o segundo turno. Ficou em terceiro lugar. A eleição será decidida entre Morando (PSDB) e Alex Manente (PPS). O PT conquistou só uma capital no primeiro turno, Rio Branco, no Acre, com a reeleição de Marcus Alexandre. Se trinfar na capital pernambucana, vai igualar o desempenho de 1996, quando também levou duas capitais. Se perder, será o pior resultado desde 1985, ano em que só conquistou uma capital, Fortaleza. Na época, Maria Luiza Fontenele foi a primeira mulher a ser eleita prefeita de uma capital de estado brasileiro.

Mais perto da condenação
Lula sofre sequencia de revezes na Justiça e vira alvo da Lava Jato em várias frentes

O ex-presidente Lula não para de acumular más notícias. O último revés saiu da Polícia Federal em Brasília, que indiciou o petista, seu sobrinho Taiguara Rodrigues e o empreiteiro Marcelo Odebrecht sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro em um caso de Angola. Segundo as investigações, Lula teria atuado para influenciar na liberação de recursos do BNDES para obras da Odebrecht em Angola. Lá, a empreiteira contrataria uma empresa de Taiguara, a Exergia, sem a devida prestação dos serviços. Caberá agora ao Ministério Público analisar o relatório e decidir se apresenta mais uma denúncia contra Lula, que já é réu em duas ações penais. Essa não foi a única notícia ruim para o petista na última semana. Seus advogados haviam pedido um prazo de 55 dias para a apresentação da defesa na ação penal em que virou réu, no caso do tríplex. O prazo normal é de dez dias, mas os advogados queriam mais. O juiz Sérgio Moro rechaçou e só concedeu cinco dias: “Não há nenhuma base legal para essa pretensão”. A decisão tomada pelo Supremo na última quarta-feira 5, de que a condenação em segunda instância basta para determinar a prisão, também passou a preocupar aliados do petista. Como já é réu em duas ações penais, Lula pode ter suas primeiras condenações no próximo ano. Há uma possibilidade real de o petista ser preso em 2018. A condenação em segunda instância também o torna inelegível pela Lei da Ficha Limpa. O ministro no STF Teori Zavascki ainda autorizou no final da semana o fatiamento do principal inquérito da Lava Jato, chamado de “quadrilhão”, que mira o núcleo político do Petrolão. Ao acolher o pedido feito pela Procuradoria-Geral da República, Zavascki incluiu Lula em um dos inquéritos.

Transição republicana

Contrariando o estilo belicoso do Partido do qual faz parte, o prefeito de SP, Fernando Haddad, logo que soube da derrota, se colocou à disposição do adversário tucano João Doria para abrir os papéis e contas da prefeitura e tiveram um encontro já na sexta-feira, 7. Algo raro em se tratando de petista.

Renovação zero

Não é possível comparar os dois momentos, embora numericamente se assemelhem. Nas décadas de 80 e 90, o partido que ainda engatinhava comportava-se como um iniciante jogador de war: cada voto ou território conquistado era interpretado como um grande feito eleitoral. Ali, o partido ascendia politicamente. Agora, trilha o caminho inverso. Há ainda outro agravante. Se não bastasse o fato de as principais lideranças petistas ou estarem presas, como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, ou na alça de mira da Lava Jato, como o ex-presidente Lula, num cenário de desilusão com a política, em que mais de 25 milhões de eleitores (17,58%) não compareceram às urnas para votar, o resultado do primeiro turno das eleições municipais registrado no domingo 2 é o sintoma de que a população não enxerga no PT a agremiação mais adequada para oferecer à sociedade os novos líderes políticos os quais ela espera que a represente. Ou seja, enquanto as antigas lideranças do partido se esfacelam, não há cheiro de renovação no horizonte petista. “Qualquer cidadão, por mais desatento que seja, fica estarrecido com o destino do PT. Um destino político que se tornou policial. A verborragia da “perseguição política” e do “golpe” nada mais é do que uma tentativa desesperada dos que não foram ainda condenados ou presos, procurando, assim, escapar de um encarceramento iminente”, afirmou Denis Rosenfield, professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O País que emergiu das urnas parece estar de acordo. O resultado revelou, da maneira mais democrática possível, a vigorosa rejeição dos brasileiros a um modo nada republicano de alcançar, se perpetuar no poder e dele se locupletar – como demonstrado mais recentemente pela Lava Jato. “Dos males, o menor, pois o país tem uma chance de revigorar a sua mentalidade, a sua concepção, e empreender um novo caminho. O que não pode — nem deve — é permanecer numa mera repetição histórica”, acrescentou o filósofo.

Publicamente, os petistas não ousam admitir, mas intramuros reconhecem: se Lula for preso ou mesmo condenado e virar um ficha-suja, o que o impedirá de concorrer à Presidência novamente, o partido se ressentirá de um nome com musculatura eleitoral suficiente para disputar o Palácio do Planalto em 2018. Por ora, o nome cogitado para eventualmente substituir Lula beira o risco de, em breve, virar piada de salão: o do senador petista Lindbergh Farias. Mesmo que por obra e graça do destino seja candidato do PT em 2018, Lula não enfrentará uma quadra favorável. Hoje, segundo as pesquisas eleitorais, o petista é rejeitado por mais de 50% dos brasileiros, o que por si só inviabilizaria um triunfo num segundo turno. Não se sabe, porém, se ele seria capaz de chegar lá. Durante as eleições municipais, não conseguiu uma vitória sequer nos 11 palanques em que subiu. Sem mandar representante para a disputa no Rio, Lula foi a voz do PT na capital fluminense para apoiar a candidatura de Jandira Feghali (PCdoB) à prefeitura. O ex-presidente aproveitou o espaço no palanque de Jandira para fazer sua defesa sobre as denúncias que pesam contra ele. E repisar o surrado discurso do golpe. Não surtiu efeito. Na mesma toada, a própria presidente deposta ousou escalar o palanque de Jandira. Não poderia ser diferente. A candidata comunista desabou nas pesquisas e não obteve nem 4% dos votos. Em Fortaleza, a candidata à prefeitura da capital cearense pelo PT, Luizianne Lins, que já foi prefeita por oito anos, acreditou que bastava apelar ao carisma do petista para conseguir, como um passe de mágica, alcançar o segundo turno. Bons tempos aqueles em que o mito elegia postes. Nem postes são mais eleitos nem o mito existe mais. Resultado: Luizianne acabou eliminada e vai acompanhar de camarote o segundo turno entre seus rivais Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (PR). Se antes valia o efeito teflon e nada colava em Lula, hoje o morubixaba petista é como um imã. Quem se distanciou de Lula, lucrou eleitoralmente. Na opinião de Thales Castro, cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), parte do êxito de João Paulo no Recife se deu justamente porque Lula não estava lá. “João Paulo conseguiu se deslocar da figura de Lula. Por isso, conseguiu ir ao segundo turno”. As derrotas impostas ao ex-presidente não se limitaram aos companheiros. Até o filho Marcos Claudio foi rejeitado pelo eleitor, que não votou nele para uma das cadeiras de vereador de São Bernardo do Campo (SP). Conseguiu somente 1.504 votos, menos da metade dos 3.882 obtidos em 2012, e foi o 58º na disputa por 28 vagas. Petista histórico, Olívio Dutra resignou-se: “O PT tem que levar mesmo uma lambada forte porque errou”.

O placar desastroso para o partido no primeiro turno das eleições municipais – quase um 7×1 eleitoral – provocou uma reunião de integrantes da cúpula do em Brasília na última semana. Começa a se estudar de novo a ideia de mudança de nome e de sigla para evitar a debandada de militantes irritados com a corrupção. É como um trabalho de Sísifo, aquele personagem de Platão que tentava rolar a rocha ao cume da montanha até ser atropelado por ela e ter de reiniciar a faina inútil: o partido quer juntar os cacos para tentar se reerguer em meio à débâcle. “Definir o futuro da legenda e as estratégias” para o segundo turno em meio ao mar de lama jogada pela Operação Lava Jato sobre a companheirada. O partido da “ética na política” que se tornou o símbolo da corrupção e foi praticamente dizimado pelas urnas no primeiro turno das eleições municipais sonha alto, como Sísifo. Ao menos, o personagem do mito da Caverna de Platão estava consciente do resultado final. O PT, ao que parece, prefere sucumbir abraçado à própria narrativa.

 

Ary Filgueira – IstoÉ

F otos: Sidney Lopes/EM/D.A Press; José Carlos Daves/Futura Press/Folhapress; José Leomar; Moacyr Lopes Junior/Folhapress

 

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