Uma sequência de imagens chocantes registradas por câmeras de segurança do Edifício Via Boulevard, no Guará II – aquele menor em frente à via contorno e ao lado do Setor de Oficinas – escancarou mais um caso grave de violência doméstica no Distrito Federal e colocou o Guará novamente nas manchetes. O vídeo mostra o empresário do ramo de venda de móveis Cleber Lúcio Borges, de 55 anos, flagrado espancando brutalmente sua esposa, de 34 anos, dentro e fora do elevador do prédio onde moravam. O crime ocorreu na madrugada do dia 1º de agosto, sexta-feira, e desde então tem repercutido em todo o país, por causa da brutalidade e por ter sido praticado contra uma pessoa indefesa.
As imagens mostram Cleber surpreendendo a vítima com um soco assim que o elevador se abre. Em seguida, ele entra com a esposa no elevador e desfere uma série de socos e cotoveladas até ela cair. Mesmo com a mulher no chão, Cleber retorna ao elevador em três momentos distintos para continuar as agressões, incluindo chutes. O vídeo termina com a mulher, visivelmente abalada, tentando apertar um novo andar, enquanto ele sai do local com objetos pessoais da vítima.

de Cléber Borges agredindo
a mulher no elevador viralizaram por todo o país e indignaram internautas e defensores das mulheres
Segundo a investigação, tudo começou após uma discussão durante um casamento. No caminho para casa, Cleber pediu que a esposa saísse do carro, afirmando que “daria uma lição nela”. A vítima conduziu o carro até o condomínio e ligou para uma amiga, informando que estava com medo e pretendia dormir fora naquela noite. Ela entrou no prédio para pegar roupas e o cachorro, mas foi surpreendida pelo agressor no elevador.
Casados há 17 anos, os dois já viviam uma relação marcada por violências anteriores, conforme relatado pela mãe da vítima. A mulher, entretanto, nunca havia feito denúncia formal, e Cleber não tinha antecedentes criminais registrados. O silêncio da vítima, no entanto, não foi suficiente para encobrir a brutalidade do episódio mais recente.
Internada em um hospital particular da Asa Sul, a mulher apresentava hematomas no corpo, edemas e ferimentos no rosto. Segundo relato da mãe, a filha estava sob forte sedação e em estado de confusão mental, efeito da quantidade de remédios que havia ingerido após o ataque. “Ela estava em um estado de quase coma pelos medicamentos e muito machucada. Achei que tinha perdido minha filha”, contou a mãe.
Foi somente após alerta dos médicos que a mãe soube da gravidade da situação. Ela procurou a 4ª Delegacia de Polícia do Guará e registrou a ocorrência, atitude que foi considerada “louvável e corajosa” pela Polícia Civil. A mãe também relatou que a filha foi levada ao hospital pelo próprio agressor, tentando esconder a natureza das lesões.
Atuação da polícia
No dia da agressão, vizinhos ouviram gritos e acionaram a Polícia Militar, que foi até o prédio. A vítima, no entanto, negou inicialmente as agressões. Posteriormente, uma equipe da 4ª DP visitou o hospital onde a mulher estava internada e conseguiu colher informações suficientes para justificar o pedido de prisão preventiva de Cleber, bem como busca e apreensão na residência do casal.
Durante a operação, a polícia encontrou duas armas de fogo sem registro — uma pistola Beretta calibre .22 e outra arma de modelo não identificado — além de 518 munições de calibres diversos. Cleber foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo e levado ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde permanece em prisão preventiva.
Inicialmente tratado como lesão corporal com base na Lei Maria da Penha, o caso pode vir a ser enquadrado como tentativa de feminicídio. O delegado responsável pelas investigações, Marcos Paulo Loures, chegou a descartar essa hipótese, mas voltou atrás ao afirmar que aguarda o laudo do IML e o prontuário médico para confirmar a gravidade das lesões.
A delegada Karen Langkammer, da Divisão Integrada de Atendimento à Mulher (DIAM), destaca que, mesmo sem a representação da vítima, o Estado deve agir. “Uma lesão corporal, a partir do aprofundamento da investigação, pode revelar todos os elementos para o enquadramento como tentativa de feminicídio, mesmo sem a manifestação da vítima. Isso ocorre porque a lei protege a vida e a integridade da mulher”, explica.

corpo da mulher, principalmente no rosto
Internação psiquiátrica e estado emocional da vítima
Após receber alta do hospital, a vítima foi encaminhada a uma clínica de reabilitação psiquiátrica, onde segue internada sem previsão de alta. De acordo com a mãe, os danos psicológicos causados pela convivência com o agressor são profundos. “Ela está tentando reagir, dar uma chance para ela mesma. Isso é o mais importante agora”, afirma.
O que diz a defesa
Em nota enviada à imprensa, o advogado de Cleber, Thyago Batista Ribeiro, declarou que “as manifestações da defesa ocorrerão nos autos do processo. O caso está em fase de apuração, e as condutas mencionadas em reportagem ainda não foram objeto de denúncia. Todas as medidas de defesa cabíveis estão sendo tomadas. O investigado tem total interesse na elucidação dos fatos e reitera sua idoneidade.”
A mãe da vítima tem feito apelos públicos para que o crime não seja tratado como mais um caso de lesão corporal. “Se ele não matou fisicamente, matou emocionalmente. E poderia ter matado sim, se não tivesse sido contido pela repercussão. Minha filha não teria sobrevivido a mais uma agressão como essa.”
O caso gerou grande comoção entre os moradores do Guará e do DF. Diversas entidades de defesa da mulher e parlamentares locais se pronunciaram exigindo celeridade e rigor na investigação.
Denuncie. A vida pode depender disso.
Os órgãos de segurança e de assistência social reforçam que a denúncia é fundamental para combater a violência doméstica. Casos como o de Cleber Lúcio Borges mostram que, muitas vezes, a intervenção de terceiros — amigos, vizinhos ou familiares — pode ser a única saída para romper ciclos de violência. Se você é vítima ou conhece alguém que esteja em situação de risco, denuncie. Ligue 180 ou procure uma delegacia especializada.
Nova acusação: furto de energia
Além dos crimes relacionados à violência doméstica, Cleber Lúcio Borges também foi indiciado por furto qualificado de energia elétrica. A Polícia Civil, com apoio de técnicos da concessionária Neoenergia, identificou que um dos depósitos de sua loja de móveis no condomínio Bernardo Sayão, abaixo do Polo de Moda, era abastecido ilegalmente, por meio de um “gato”, ligação clandestina de energia elétrica. É o terceiro indiciamento contra o empresário em menos de duas semanas, o que pode manter a prisão dele por um bom tempo.
O post Violência no elevador – PENA SEVERA PARA A COVARDIA apareceu primeiro em Jornal do Guará.