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Testemunhas de Jeová: jovem encampa luta após avó morrer por recusar transfusão

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DÉLIO ANDRADE
DÉLIO ANDRADEhttp://delioandrade.com.br
Jornalista, sob o Registro número 0012243/DF

Yann Rodrigues (foto em destaque), 25 anos, conheceu ainda na infância a dor de perder um ente querido por causa da crença em uma fé. Há 15 anos, sua avó morreu após recusar uma transfusão de sangue — decisão tomada em nome do dogma das Testemunhas de Jeová.

A experiência marcou profundamente o autônomo, que rompeu com a religião aos 15 anos. Anos mais tarde, ele fundou o Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ), uma organização que denuncia práticas que considera abusivas dentro da igreja.

A crença, baseada em interpretações de passagens da Bíblia (Gênesis 9:4; Levítico 17:10; Deuteronômio 12:23; Atos 15:28, 29 e Levítico 17:14) condena transfusões de sangue por acreditar que qualquer forma de ingestão de sangue é proibida por Deus.

A recusa das Testemunhas de Jeová em aceitar transfusões de sangue, mesmo em situações de risco de morte, é uma das práticas mais conhecidas e polêmicas da religião.

Em alguns casos, os membros da igreja chegam a registrar em cartório uma procuração para garantir que sua recusa a transfusões de sangue seja respeitada em caso de emergência médica. Essa procuração, também conhecida como diretiva antecipada ou testamento vital, especifica que a pessoa não deseja passar pelo procedimento, mesmo que isso possa ser necessário para salvar sua vida.

O caso da avó de Yann o levou a lutar pela causa. Na percepção dele, a doutrina religiosa “ceifa a vida das pessoas”.

“São inúmeros casos de pessoas que perderam sua vida por conta dessa questão lamentável. A minha avó faleceu por se recusar a passar pela transfusão como ato de fé. Foi algo que me abalou muito. Inclusive, foi isso uma das coisas que me motivou a sair dessa organização religiosa sectária, porque eu vi que não tem nada de Deus ali. É uma coisa extremista, que ceifa a vida das pessoas”, conta o autônomo.

Protesto

Nessa quarta-feira (14/8), o jovem e um grupo de outras ex-Testemunhas de Jeová estiveram na frente do Supremo Tribunal Federal (STF) para protestar contra as mortes sem transfusão, em “nome de Jeová”.

O ato aconteceu dias antes do STF colocar em pauta o recurso do Conselho Federal de Medicina (CFM) que pede para rever a decisão do ano passado sobre o tema, que define que a liberdade religiosa de uma pessoa pode justificar o custeio de tratamento de saúde diferenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O embargo visa discutir sobre a conduta do médico quando há risco de vida do paciente, em casos em que não há possibilidade de tratamento alternativo, como, por exemplo, em acidentes graves, onde há muita perda de sangue.

“Nós somos a favor de uma saúde pública igual para todos os brasileiros. A crença religiosa não deve estar acima da ciência. Dentro da religião, a testemunha de Jeová está entre a cruz e a espada. Ou você morre para os seus parentes, ou você morre literalmente pela religião. Aqueles que aceitam a transfusão são expulsos da igreja”, argumenta Yann.

Ele ressaltou, no entanto, que já houve uma vitória importante. Graças a protestos anteriores, o ministro Flávio Dino incluiu uma emenda na decisão do STF que garante que crianças e pessoas incapazes não podem recusar transfusão de sangue. “Mas ainda falta mais”, disse, referindo-se ao novo julgamento que definirá a conduta para pacientes adultos.

Para ele, ainda existem possíveis consequências financeiras e administrativas para o SUS, caso tratamentos de saúde baseados em religiões específicas sejam implementados, como, por exemplo, o aumento dos custos operacionais, desvio de recursos e desigualdade no acesso à saúde pública.

O MAV-TJ organiza manifestações e denúncias públicas em cidades como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, buscando sensibilizar autoridades e legisladores para os impactos causados por essas doutrinas.

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“Deus em primeiro lugar”

Na revista “Despertai!”, produzida pela Testemunhas de Jeová, são relatadas histórias de diversas crianças que optaram pela recusa da transfusão de sangue por “obediência a Jeová” e pela garantia de vida no “Paraíso”, mesmo que, com a escolha, elas viessem a óbito. Na publicação religiosa é descrito que o jovem recebe “poder além do normal” quando decide não aceitar transfusão de sangue.

“No passado, milhares de jovens morreram porque colocaram Deus em primeiro lugar. Ainda há jovens assim, só que hoje o drama acontece em hospitais e tribunais, tendo como questão as transfusões de sangue.” É assim que começa a edição da revista “Despertai!”, de maio de 1994.

Uma dessas histórias é a de Adrian, que descobriu um tumor no estômago aos 14 anos. Os pais do garoto, que seguiam a religião Testemunhas de Jeová, chegaram a cogitar uma transfusão necessária para salvar sua vida, mas o garoto não teria permitido.

“Mãe, isso não é um bom negócio. Desobedecer a Deus e prolongar a minha vida alguns anos agora e daí, por causa da minha desobediência a Deus, perder a ressurreição e a vida para sempre na Sua Terra paradisíaca, isto não é ser inteligente!”, teria dito Adrian, de acordo com o trecho da revista que conta sua história.

Veja abaixo alguns trechos da revista:

 

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Capa revista “Despertai!

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Arquivo

Morte de Testemunha de Jeová

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) negou, pela segunda vez, pedido de indenização feito pela família de uma paciente que morreu em 2024 após quebrar o fêmur. A 2ª Câmara de Direito Público do TJSP manteve a decisão da 1ª Vara Cível de Indaiatuba, no interior de São Paulo. A segunda negativa aconteceu no último dia 17 de julho deste ano.

Segundo o processo da Justiça, por ser testemunha de Jeová, parentes da mulher recusaram cirurgia indicada pela equipe médica do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (Iamspe), já que envolvia procedimento de transfusão de sangue.

Por conta disso, o hospital abriu um protocolo para buscar outra unidade de saúde que realizasse o procedimento conforme os desejos da paciente. Juntamente com o próprio Iamspe, os familiares da idosa procuraram e conseguiram vaga em um hospital particular para a realização da cirurgia nos moldes religiosos. Apesar disso, a paciente morreu dias depois

O que a disse a Justiça

  • Na decisão de 2ª instância, o desembargador relator do recurso, Marcelo Martins Berthe, afastou a responsabilidade do hospital e afirmou que a equipe médica disponibilizou o tratamento necessário.
  • Além disso, o magistrado disse que o Iamspe procurou outro hospital para que pudesse ser feita a cirurgia e disponibilizou leito para retorno, que aconteceria após o procedimento no hospital particular.
  • “Assim, a simples afirmação da ocorrência de dano não é o suficiente para a condenação da Fazenda Pública ao pagamento de indenização”, explicou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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