Arte, cultura e comida. A gastronomia ancestral está presente diariamente na mesa da população brasileira e envolve muito mais do que só o ato de cozinhar. Refere-se também às práticas culinárias e aos hábitos alimentares transmitidos de geração em geração, que refletem a identidade e a história de um povo.
Aproximar a alimentação ancestral do público por meio da teoria e da prática é a proposta do projeto social Fufu Ajayô.
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Idealizada pela Aguiar Conexões Criativas, em parceria com o Coletivo da Cidade e apoio da Casa Orí Ayô, por meio de recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), a iniciativa oferece oficinas gratuitas para mulheres negras e LGBTQIAPN+ da Cidade Estrutural, de modo a alinhar gastronomia e gestão de negócios.
“Mais do que um curso, o Fufu Ajayô é uma celebração da resistência, do afeto e da potência transformadora das mulheres negras por meio da comida”, ressalta a idealizadora e coordenadora-geral do projeto, Ray Preta.
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Acarajé
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Tássia Aguiar e Ray Preta
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Mãe Francys de Oyá
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Participantes realizaram oficina do acarajé
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Alunas participam de oficinas teóricas e práticas
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Massa do acarajé é feita com feijão fradinho
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Domingas Conceição Silva (primeira à esquerda) gostou muito de participar do projeto
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Rosana Mendes classificou que a iniciativa tem significado de “resgate” para ela
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Oficina foi ministrada pela Mãe Francys de Oyá
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Alunas prepararam acarajé durante oficina
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Também idealizadora do projeto, a coordenadora de oficinas Tássia Aguiar comentou que a ideia é passar para as alunas que a gastronomia é uma arte.
“Temos experiência com a gastronomia. Ray e eu somos um casal e abrimos um restaurante vegano há anos. Essa [iniciativa] é uma construção do que vivemos e, com nossa experiência, pretendemos passar isso para outras mulheres negras e periféricas, para que elas também possam empreender e fomentar o que fazem”, detalha Tássia.
Resgate pessoal
O impacto das oficinas foi definido por uma das participantes do projeto como “transformador”. Motorista de carro por aplicativo, Rosana Mendes, 41 anos, conta que o projeto tem significado de “resgate” para ela.
“Tive câncer no ano passado e, depois de tudo, precisava me reencontrar e reinventar. Conhecer essa cultura e me aproximar dessa cozinha tem sido algo maravilhoso. Todo ensinamento tem sido magnifico. Estou encantada, além de motivada e decidida a me engajar nessa culinária, que carrega significados e sentimentos”, comenta Rosana.
Atualmente desempregada, Domingas Conceição Silva mora na Cidade Estrutural e, assim que soube do projeto, quis se inscrever.
“Minha vontade é ser uma grande protagonista na cozinha. Apesar de baiana, não conheço muito da cultura por trás da gastronomia. Tem sido um [momento de] grande aprendizado, e tudo muito prazeroso. Dividir a cozinha com outras mulheres na mesma situação que eu é algo bem especial para mim”, diz.
Reconhecimento dos melhores pratos
Com receitas escolhidas minuciosamente, baseadas em reaproveitamento, sustentabilidade, alimentação ancestral, inclusão e antiespecismo, os encontros ocorrem durante todo este mês e valorizam pratos típicos, originais e com insumos acessíveis.
Em um dos encontros, as participantes aprenderam a fazer acarajé. A oficineira Mãe Francys de Oyá afirma que a iniciativa mostra o papel multifacetado da gastronomia.
“Essa comida traz empoderamento e autoestima. O objetivo do projeto é tanto de relevar o ego e transformar a tristeza em alegria quanto de fazer com que essas mulheres transformem a realidade e a vida delas”, descreve.
Como parte final do projeto, em 2 de agosto haverá a Feira Fufu Ajayô de Gastronomia, um evento aberto ao público, que reunirá sabores, ancestralidade e protagonismo feminino em um espaço de encontro com a comunidade.
Divididas em grupos, as mulheres serão desafiadas a criar receitas para apresentar e vender na feira a preços simbólicos de R$ 5. Os melhores pratos receberão premiação em dinheiro de R$ 2 mil, R$ 1,5 mil e R$ 1 mil, para primeiro, segundo e terceiro lugares, respectivamente.
Todas as participantes terão os nomes, as histórias e as receitas celebradas por meio da entrega de certificados, de troféus e da participação em um ensaio fotográfico profissional.
Projeto Pretagonistas
Paralelamente ao Fufu Ajayô, as idealizadoras Tássia Aguiar e Ray Preta promovem o projeto Pretagonistas. Com foco na juventude negra periférica, a iniciativa, que também ocorre na Estrutural, oferece formação gratuita para 30 jovens de 18 a 29 anos, com ênfase em mulheres, no público LGBTQIAPN+ e em pessoas com deficiência (PCDs).
A proposta é capacitar os participantes para atuarem na produção cultural, por meio de oficinas ministradas por profissionais negros e negras nas áreas de cultura, comunicação, artes e ativismo social.
Ao fim da formação teórica de 10 dias, os jovens planejam e promovem uma experiência cultural gratuita, com oito horas de programação, cinco atrações artísticas e uma feira criativa com expositores e ambulantes da cidade.
O evento, que ocorre neste sábado (20/7), consolida a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos pelos jovens, bem como promove a visibilidade e a inserção real desses novos agentes no circuito cultural do Distrito Federal.
O ciclo termina com o evento Sankofa, momento simbólico de transição de aprendizes para produtores culturais. Nele, os participantes farão uma apresentação curta e direta, em formato de pitch para uma banca formada por profissionais da cena cultural local, sobre os respectivos projetos culturais.
O encontro ainda contará com convidados especiais, entrega de certificados e um coquetel de celebração.