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sexta-feira, abril 19, 2024
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Alvo de operação policial, subsecretário da Receita do DF é exonerado

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Alvo da Operação Publicanos, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nessa quarta-feira (17/4), o subsecretário da Receita do Distrito Federal, Sebastião Melchior Pinheiro (foto em destaque), foi exonerado do cargo. A decisão, adiantada pela coluna Grande Angular, foi publicada no Diário Oficial (DODF) desta sexta (19/4).

A Justiça já havia afastou o servidor de suas funções no dia da operação. Ele também foi proibido de acessar as dependências da Subsecretaria da Receita do Distrito Federal (Surec) e da Secretaria de Economia do Distrito Federal.

No lugar de Sebastião, foi nomeado o auditor Anderson Borges Roepke.

A investigação aponta que Sebastião, valendo-se do cargo que ocupa, cancelou, de forma célere e sem embasamento, duas Certidões de Dívida Ativa (CDA) do Atacadão Dia a Dia após solicitação da empresa. As CDAs totalizavam o valor aproximado de R$ 13 milhões.

A PCDF cumpriu três mandados de busca e apreensão contra o servidor do alto escalão suspeito de infringir dever funcional.

Sebastião teria fundamentado a decisão de cancelamento em questão que já havia sido apreciada e rejeitada pelo Tribunal Administrativo de Recursos Fiscais (Tarf).

As medidas foram cumpridas na casa do investigado, na sede da Surec e em outro setor da Secretaria de Estado de Economia do Distrito Federal, que funciona no prédio do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (Ipedf).


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A investigação é conduzida pela Delegacia de Repressão à Corrupção (DRCor), vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), com o apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, por intermédio da Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Tributária (Pdot). A operação contou ainda com apoio de peritos de informática do Instituto de Criminalística.

“A polícia destaca que há inegável prejuízo ao erário e benefício ao referido contribuinte ante o cancelamento, pois, além de atrasar o recebimento dos tributos pelos cofres públicos, vez que as CDAs são títulos executivos extrajudiciais que permitem ajuizamento pela Fazenda Pública da respectiva ação de execução, fere o princípio da isonomia, trazendo vantagem indevida para esse contribuinte em relação aos demais que obtiveram desfechos diferentes em situações idênticas”, ressaltou a PCDF.

A conduta também impede a apuração criminal, uma vez que o cancelamento afasta a materialidade de eventual crime tributário.

Segundo a PCDF, as buscas têm como objetivo a consolidação e o robustecimento dos elementos probatórios já coligidos para conclusão do inquérito em andamento, visando arrecadar maiores elementos de prova, além de apurar o possível envolvimento de outras pessoas e outras ações similares praticadas pelo servidor.

Os suspeitos estão sendo investigados, à medida da participação, pela possível prática dos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e crime funcional contra a ordem tributária. Caso condenados, eles podem pegar penas de até 20 anos de prisão.

Posicionamento do Atacadão Dia a Dia

A empresa se manifestou por meio de nota. Leia na íntegra:

“O Atacadão Dia a Dia tem a satisfação de informar ao público que todos os débitos referentes às obrigações tributárias se encontram regulares.

A transparência e a responsabilidade fiscal são pilares que sustentam nossa operação. Temos orgulho de ser um dos maiores empregadores da região, com um quadro de 10 mil colaboradores diretos e indiretos; além de ser líder em recolhimento de impostos no Distrito Federal. Nossa contribuição para a economia local e o bem-estar de nossos empregados e da comunidade são inquestionáveis.

Reiteramos nosso compromisso com a legalidade e a ética empresarial e com diálogo construtivo com todas as instâncias reguladoras. Confiamos no trabalho das autoridades públicas e na retidão do nosso trabalho. Estamos certos que a verdade dos fatos prevalecerá e que esta e as futuras avaliações serão conduzidas de forma justa e equânime, refletindo os verdadeiros valores que sempre orientaram a nossa atuação”.

Quando gatos pesam tanto quanto elefantes

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“O balanço da vida na Terra mudou completamente nos últimos 10 mil anos. Se tivéssemos uma balança gigante e pesássemos todos os vertebrados no planeta no início da Revolução Agrícola (10 mil anos atrás), 99% seria de animais selvagens e menos de 1% de humanos. No Antropoceno, os animais selvagens correspondem apenas a 4%, os domesticados pelo homem (vaca, cavalo, cabra, gato), 60%, e o ser humano, 36%.”

“Isso mesmo, todos os animais selvagens do planeta, de ursos polares a elefantes, gorilas ou macacos-prego e saguis, tudo somaria apenas 4% de toda a biomassa de mamíferos no planeta. A biomassa de todos os cães domésticos é hoje igual à biomassa de todos os mamíferos selvagens terrestres, e a biomassa total de gatos é igual à de todos os elefantes selvagens na natureza.”

Se a imagem descrita acima não te fez dar uma chacoalhada na cabeça e pensar: “carambola!!!”, sugiro que você leia de novo. Principalmente o trecho que grifei. É a verdadeira dominação mundial de cães e gatos! E nem vamos entrar aqui no impacto que nossos pets causam diretamente na fauna selvagem.

Retirei essa passagem do recém-lançado Um naturalista no Antropoceno, do biólogo e ecólogo brasileiro Mauro Galetti, professor da Unesp de Rio Claro. Galetti, por sua vez, estava se referindo aos dados do estudo “The global biomass of wild mammals”, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em fevereiro do ano passado.

Eu não conhecia esses cálculos e eles me deixaram muito impressionada. Porque é uma imagem cristalina da grandiosidade do impacto que causamos na Terra. 

Galetti me enviou o livro dele há algumas semanas, depois que o debate sobre o Antropoceno foi tema desta coluna por duas ocasiões: aqui e aqui. Como o próprio pesquisador define, a nova obra é uma mistura de autobiografia da sua trajetória como cientista no Brasil, com exemplos de como o ser humano está afetando a biodiversidade e o clima. 

A comparação que eu emprestei para abrir este texto está logo no começo do livro, quando Galetti enumera diversas evidências de que o planeta está mudando por ação da nossa espécie e que justificam, sim, dizer que estamos em um novo tempo, o tempo dos homens, o Antropoceno. 

A mudança no “balanço na vida”, como diz o pesquisador, não se dá só porque criamos rebanhos gigantescos para nos alimentar, mas também porque, no processo de expansão do Homo sapiens pela Terra, fomos eliminando outras espécies. Ele cita uma estimativa da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN): desde o século 16, 800 espécies teriam sido extintas por ações humanas. 

É muita coisa, agora muito pior é a previsão futura: “mais de 42 mil estão caminhando para o mesmo destino se o próprio homem não cessar suas ameaças”, escreve o pesquisador. “Cerca de 41% de todos os sapos e pererecas, 27% de todos os mamíferos, 13% das aves, 37% das raias e tubarões e 21% de todos os répteis estão hoje ameaçados de sumirem do planeta”, detalha.

Galetti tem 57 anos e vem se dedicando, ao longo de sua carreira, a entender os impactos que essa perda de fauna – ou defaunação – causa sobre todo o resto do ecossistema. De forma curta e grossa, pode tudo colapsar, ele explica. 

A extinção de espécies afeta diretamente o bem-estar da humanidade e não é apenas um capricho de ambientalistas. Por isso os cientistas alertam que é fundamental para o nosso futuro evitar que espécies sejam extintas”, escreve o pesquisador, meio que já antevendo comentários do tipo: “Ah, mas qual é o problema de perder uma espécie aqui, outra ali, ainda mais se for em prol do desenvolvimento?”. 

Quem aqui se lembra de quando o presidente Lula, em seu segundo mandato, se queixou do parecer do Ibama contra hidrelétricas no rio Madeira? “Agora não pode por causa do bagre, jogaram o bagre no colo do presidente. O que eu tenho com isso?”, reclamou nos idos de 2007, como recorda este texto do site O Eco.

Galetti não chega a falar sobre os bagres no livro, mas ele traz uma história sobre uma ave que responde bem o que todos nós temos a ver com isso. Ele conta da jacutinga. Não consigo me recordar se já vi uma na natureza, mas a descrição que ele faz no livro já me deixou triste por nunca ter tido essa oportunidade. 

“Essa ave, que parece uma enorme galinha que saiu do salão de beleza, é uma das mais belas de toda a Mata Atlântica. Sua cabeleira branca destoa com as pálpebras azuis e um papo vermelho”, conta. 

O problema é que, além de bonita, ela era também “abundante e saborosa como uma galinha”, diz o pesquisador, o que a tornou alvo fácil de caçadores. “E assim foi o destino da jacutinga. Milhares delas foram caçadas sem piedade”, escreve. De mais de 1 milhão que se estima que existissem no começo do século passado, hoje há menos de 4 mil na Mata Atlântica.

Bem, mas e daí que a jacutinga está sendo extinta? Uma galinha gostosinha e abundante deve ter alimentado muita gente. É a lei da selva, não é? – pode pensar o leitor menos afeito aos apelos da conservação. Então, só que não é bem assim. Galetti conta que a jacutinga é o que ele chama de “megacomedora e dispersora de sementes, uma máquina de comer frutos e plantar árvores”. 

Ele e um colega registraram mais de 40 espécies de árvores plantadas pelas jacutingas, inclusive algumas medicinais, como a espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), famosa por aliviar gastrites e azia. 

“Tenho certeza de que você já ouviu falar do chá da espinheira-santa. Dê graças à jacutinga por termos muitas espinheiras-santas na mata. Se extinguirmos as aves dispersoras de sementes como a jacutinga, perderemos não apenas uma ave, mas também a espinheira-santa”, faz graça o pesquisador.

Mas não para por aí. “A jacutinga e outras aves que comem e dispersam sementes de árvores podem também nos ajudar a resolver o aquecimento do planeta”, escreve. Aula básica de biologia, lembra? Árvores se alimentam pelo processo de fotossíntese, em que absorvem gás carbônico (CO2) da atmosfera. E esse carbono fica armazenado em suas folhas, troncos e raízes.

Como é o excesso de CO2 na atmosfera, proveniente, principalmente, da queima de combustíveis fósseis, o principal fator por trás do aquecimento global, estratégias para absorvê-lo são fundamentais. Entre elas: plantar floresta. Mas e a jacutinga?

“Pois bem, essa ave é uma verdadeira máquina de comer e dispersar sementes de árvores, incluindo aquelas de madeira bem dura que capturam muito carbono. A cajati [ou canela] (Cryptocarya mandioccana) é uma árvore que pode atingir 35 metros de altura e possui frutos redondos e amarelados que são adorados por macacos e jacutingas. Então, a jacutinga e os macacos, ao comer e plantar canelas, ajudam a reduzir o CO2 na atmosfera do planeta.”

Não é demais? Confesso que não sabia. Fiquei encantada. 

Tenho sentido um pouco de dificuldade em escrever esta coluna nas últimas semanas. Não porque falte tema para tratar aqui – considerando a premissa que coloquei desde o começo, de que falar sobre a crise climática é falar basicamente sobre tudo, assunto tem até demais. Mas às vezes é inevitável sentir que estou chovendo no molhado. A saída, então, é buscar inspiração. O livro de Mauro Galetti – que está disponível para download gratuito no site da Editora Unesp – traz uma boa dose disso.

Empresas “donas da água” no Brasil pagaram 5 centavos para cada 10 mil litros captados

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Cinco centavos. Esse é o valor que um conjunto de 44 empresas que mais captam água no Brasil pagaram em 2022, em média, para cada 10 mil litros que são autorizadas a retirar de fontes de água federais. Muitas delas não pagaram nem um centavo sequer, mesmo sendo a água um recurso fundamental para o funcionamento de seus negócios bilionários. 

A cobrança pelo uso da água tem como principal finalidade promover o uso racional dos recursos hídricos e é um dos pilares da gestão da água. Passados 27 anos da lei que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos, entretanto, o instrumento ainda engatinha no país, parte pela inação do Estado, parte por pressões econômicas contrárias ao pagamento.

Em outubro de 2023, a Agência Pública revelou quais são as 50 empresas “donas” da água no Brasil (entre elas havia seis com outorgas preventivas, instrumento que reserva água para grandes projetos em planejamento). O levantamento trouxe à tona uma série de problemas nas concessões de outorgas, que se baseiam em critérios desatualizados e não levam em conta a variação da quantidade de água disponível nos rios ao longo do ano. Agora, avaliamos se essas empresas fazem algum tipo de pagamento por esse uso. 

Entre as campeãs de captação de água estão gigantes do agronegócio, do setor sucroalcooleiro e de papel e celulose. Esse conjunto de grupos empresariais tem outorgas para captar 5,2 trilhões de litros por ano. Isso apenas em corpos hídricos de domínio da União, que são aqueles que banham mais de um estado, são limítrofes a territórios estrangeiros ou estão em área federal. É um volume equivalente ao consumo anual de 93,8 milhões de pessoas, quase metade da população do país, segundo o Censo 2022 do IBGE.

Considerando as 44 empresas que já captam a água na prática (juntas elas têm direito a 4 trilhões de litros), metade não pagou nenhum centavo pelo uso de água em 2022. É o que mostra levantamento feito pela reportagem a partir da análise de dados públicos e informações obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI).

Essas empresas podem captar juntas 1,7 trilhão de litros por ano. Apenas as outras 22, que podem extrair 2,3 trilhões de litros/ano, pagaram algo pelo uso da água de fontes federais. O montante desembolsado por essas empresas no ano retrasado foi de R$ 20,9 milhões.

O total representa apenas 17% dos R$ 123,2 milhões arrecadados entre todas as empresas que pagaram pelo uso da água nos comitês de bacias interestaduais que já instituíram a cobrança. O valor se refere ao ano-exercício de 2022, o mais recente com dados completos, e considera o uso da água pelas empresas no ano anterior. 

A gestão da água, avaliam os especialistas ouvidos pela Pública, se mostra ainda mais relevante com o avanço das mudanças climáticas, que podem tornar as grandes captações do agronegócio e da indústria insustentáveis. O aquecimento do planeta tem como uma das consequências a alteração do regime de chuvas, ora provocando escassez, como a que atingiu a Amazônia ano passado, ora provocando tempestades sem precedentes, como as enfrentadas pelo Rio Grande do Sul em 2023. 

Em terras brasileiras, a emergência climática se associa com o desmatamento, que agrava ainda mais as mudanças no padrão pluviométrico e na capacidade que o solo tem de reter a água. Demonstração disso é a redução de 15,7% da superfície coberta por água no Brasil entre 1985 e 2020, segundo dados do MapBiomas.

A despeito de ainda ser o país com maior quantidade de água doce no mundo, cerca de 12% do total, a tendência no Brasil é de aumento na disputa por recursos hídricos. Nos últimos dez anos, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) contabilizou 2.447 conflitos por água, com 20 assassinatos. 

“Os conflitos vão se avolumar ainda mais se os setores não colocarem a água como um componente estratégico para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do país”, aponta o secretário-executivo do Observatório da Governança das Águas (OGA Brasil), Angelo Lima. 

Por que isso importa?

Empresas têm direito a captar trilhões de litros, mas pagam pouco ou quase nada pela águaMudanças climáticas vão reduzir disponibilidade hídrica, aumentando conflitos pelo recurso, o que impõe maior controle sobre o uso

Maior parte do Brasil ainda não cobra pela água

A cobrança pelo uso dos recursos hídricos não se trata de um imposto e tampouco funciona na mesma lógica da conta de água doméstica, que serve para cobrir os gastos do serviço prestado pela empresa de abastecimento. Ela serve como uma remuneração pelo uso de um bem público e funciona como uma taxa de condomínio, em que os diferentes moradores pagam um valor mensal, utilizado na manutenção e em melhorias na estrutura do local.

Ainda que a finalidade seja diferente, a comparação entre o montante pago pelas grandes empresas e a conta que chega na casa das pessoas revela um abismo: as empresas pagam cerca de 1.420 vezes menos do que o consumidor. Em São Paulo, por exemplo, uma família que consuma os mesmos 10 mil litros mensalmente vai pagar pouco mais de R$ 71 em sua conta mensal.

Segundo a Lei 9.433/1997, que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos, o objetivo primário da cobrança pelo uso dos recursos hídricos é promover o uso racional da água, um recurso finito, de maneira que os usuários reconheçam seu valor econômico. 

Além disso, o montante arrecadado é utilizado na própria bacia, financiando os organismos locais do sistema de gestão de recursos hídricos e projetos que garantam a perenidade da água, como a recuperação e preservação de mananciais.

Para que ela ocorra na prática, é preciso que seja estabelecido um comitê de bacia hidrográfica (CBH) naquela região. Os comitês são fóruns de composição mista, incluindo representantes do poder público, da sociedade civil e dos usuários de recursos hídricos. 

São os próprios CBHs que definem qual o valor e quem será cobrado pela utilização da água, e os recursos são geridos por uma agência de bacia, órgão executivo de apoio aos comitês. A cobrança é feita em cima do valor efetivamente captado no ano anterior e não do total autorizado. Há CBHs estaduais e interestaduais, sendo os últimos os responsáveis pela cobrança dos recursos hídricos federais.

Aqui se encontra a primeira lacuna que explica por que muitas das empresas que aparecem no levantamento da Pública não pagaram nenhum centavo sequer em 2022: não há comitê de bacia em boa parte do país. Considerando as águas federais, o Brasil tem atualmente dez comitês de bacia interestaduais, concentrados especialmente no Nordeste e no Sudeste. 

De acordo com Vicente Andreu, ex-presidente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA – órgão federal que concede as outorgas de água), a instalação de um comitê de bacia depende de “uma organização social prévia para ser viabilizado”, com “um esforço político, principalmente do poder público, de convencimento dos usuários de água”. “Alguns grupos fazem movimento de não ter comitê, para não ter cobrança, não ter enquadramento dos corpos hídricos. Tem um movimento consciente e deliberado de impedir que o sistema se consolide e se fortaleça”, aponta.

Todos os comitês interestaduais são majoritariamente compostos pelo setor de usuários, que detém 40% das vagas em média – com o agronegócio ocupando de 5% a 20% e a indústria e a mineração juntas variando entre 6% e 15% do total de vagas. O poder público tem entre 30% e 40% das vagas, somando as esferas federal, estadual e municipal. A sociedade civil ocupa entre 20% e 30% das vagas nesses comitês.

Nesse contexto, acaba sempre ocorrendo pressão para se cobrar o menor valor possível pela água em qualquer das bacias brasileiras. “Alguns usuários altamente demandantes de água, como o setor agrícola, na maioria das bacias [estaduais] ainda não pagam ou pagam muito pouco. É um valor decidido no comitê pelos próprios usuários, mas as pessoas enxergam e vendem isso como se fosse mais um imposto”, diz Andreu.

Angelo Lima, da OGA Brasil, destaca também que há uma certa “inação” de alguns estados na instalação dos comitês por conta de “pressões do setor econômico”, especialmente nas regiões onde o agronegócio é forte. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, a Assembleia Legislativa chegou a aprovar uma lei que isentava o setor agropecuário da cobrança pelo uso da água, o que foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O estado do Centro-Oeste não é abrangido por nenhum comitê de bacia interestadual – ou seja, as empresas instaladas por lá que captam águas de fontes federais não pagam nenhum centavo sequer pelo uso do recurso. O Mato Grosso do Sul concentra as outorgas das gigantes do setor de papel e celulose, com um volume anual de 334,2 bilhões de litros, considerando o levantamento feito pela reportagem. 

É o mesmo caso do Pará, sede de grandes projetos de energia termelétrica e de mineração, onde há outorgas para captação de 211,3 bilhões de litros, mas nenhum mililitro de água é cobrado por falta de um comitê de bacia. A região da bacia amazônica como um todo não possui comitê de bacia interestadual e tem uma quantidade ínfima de comitês estaduais, a despeito de concentrar 81% da água superficial do país.

Mas mesmo nos locais onde os comitês de bacia já foram instalados, nem todos estabeleceram a cobrança pelo uso da água. Nos interestaduais, três deles – Paranapanema, Piranhas-Açu e Parnaíba – ainda não instituíram a cobrança e um – Grande – vai começar a cobrar a partir deste ano. 

O cenário é ainda pior nas bacias estaduais: apenas cinco estados (CE, SP, RJ, MG e PB) já cobram pelo uso da água em todo o seu território, e mais três (GO, RN e SE) vão começar a cobrar em 2024. O Paraná faz a cobrança em duas de suas bacias, e o Espírito Santo vai iniciar a cobrança em uma bacia a partir deste ano. Em vários dos comitês estaduais, o setor do agronegócio é isento ou paga valores diferenciados. Em 17 estados, não há cobrança alguma, segundo informações da própria ANA. 

Para Andreu, apesar de os valores cobrados ainda serem baixos, os comitês que conseguiram vencer os obstáculos e instalaram a cobrança devem ser vistos de maneira positiva. 

“Nenhum prefeito, nenhum governador gosta de falar que vai implementar a cobrança do uso da água. [O político quando decide implementar a cobrança] não justifica pelas qualidades, pela manutenção de um sistema descentralizado e democrático de gestão de recursos hídricos. Eles normalmente justificam dizendo que a lei obriga. Ninguém quer pagar, tem efeitos políticos, pode refletir na opinião pública, é utilizado pela oposição, então é mais cômodo não fazer”, argumenta.

Valor pago pela água é apenas 0,07% dos lucros das grandes empresas

Em 2022, o preço médio de tabela cobrado de todos os usuários a cada 10 mil litros captados nas bacias interestaduais foi de 23 centavos. O valor, no entanto, cai para cinco centavos para o grupo de empresas “donas da água” porque boa parte do recurso a que elas têm acesso não passa por nenhum tipo de cobrança. Isso ocorre porque nem todo o território nacional é coberto por comitês e nem todos já estabelecidos implementaram esse instrumento de gestão.

É o caso, por exemplo, da Suzano, uma das maiores produtoras de celulose do mundo e uma das líderes globais no mercado de papel. A empresa, que lidera o ranking de maiores captadoras de água do país, foi a que mais pagou pelo uso da água de fontes federais em 2022. 

Contando todas as empresas da holding, a Suzano é autorizada a captar 469,8 bilhões de litros por ano, o suficiente para abastecer as populações das capitais Rio de Janeiro (RJ) e Manaus (AM) juntas. Em 2022, a companhia pagou cerca de R$ 10,3 milhões – apenas R$ 0,11 para cada 10 mil litros autorizados.

Isso ocorre porque a empresa está distribuída em várias partes do país e apenas em algumas delas há comitês de bacia com cobrança instituída. O valor foi pago a três comitês. A maior fatia, R$ 8,3 milhões, foi para o comitê do rio Doce, corpo hídrico em que está localizada a maior outorga individual da Suzano, que pode captar 173,4 bilhões de litros em Linhares (ES). A bacia abrange o leste de Minas Gerais e o nordeste do Espírito Santo. 

O restante foi pago aos comitês do Paraíba do Sul (SP, MG e RJ) e do PCJ (que inclui os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, em SP e MG). 

Mas nada foi pago para os 142,6 bilhões de litros autorizados para captação em Três Lagoas (MS), onde está instalada a maior parte da produção da empresa. A falta de comitê faz com que a empresa não pague nada pelas autorizações de quase 71,8 bilhões de litros em Imperatriz (MA) e de 39,4 bilhões de litros em Belmonte (BA).

Em 2021, a empresa teve R$ 40,9 bilhões em receitas e R$ 8,6 bilhões de lucro líquido. O montante pago pela Suzano pelo uso da água, recurso-chave para uma empresa do setor de papel de celulose, representa 0,025% das receitas e 0,12% do lucro líquido.

Se os 4 trilhões que as maiores captadoras de água do país podem extrair fossem cobrados em 23 centavos a cada 10 mil litros, valor médio definido pelos comitês de bacia interestaduais, a arrecadação seria de R$ 920 milhões em 2022. Mas foi de apenas R$ 20,9 milhões.

A cifra representa uma pequena fração das receitas desses grupos empresariais que dominam os recursos hídricos no país. Das 22 empresas que pagaram algum valor, a reportagem conseguiu acesso às demonstrações financeiras de 13 delas, responsáveis por 94% do valor pago no ano retrasado. Somadas, elas tiveram R$ 157,7 bilhões em receitas em 2021, com um lucro líquido de cerca de R$ 33,7 bilhões. 

O montante pago pelo uso da água representa 0,013% das receitas e 0,07% do lucro líquido dessas companhias somadas.

Entre as 22 empresas “donas da água” que não foram cobradas em 2022, uma das campeãs em captação é a Eldorado Brasil Celulose, que possui uma outorga de 148,9 bilhões de litros por ano, equivalente ao consumo de toda a população do Mato Grosso do Sul. A captação de água ocorre justamente no estado do Centro-Oeste, no município de Três Lagoas, a “capital da celulose”. 

A empresa ganhou as manchetes nos últimos anos por estar no centro de uma disputa pelo controle acionário entre a indonésia Paper Excellence e a J&F Investimentos, dos irmãos Batista, donos da JBS e nacionalmente conhecidos por seu envolvimento na Operação Lava Jato. 

No Norte do país, a Mineração Rio do Norte é outra das grandes captadoras de água que não pagam pelo uso do recurso hídrico até o momento. Velha conhecida do Ibama, com mais de R$ 30 milhões em multas, a mineradora pode captar 50,7 bilhões de litros por ano, o que equivale ao consumo de toda a população do Acre.

A lista inclui também gigantes do setor sucroalcooleiro que atuam na região Sudeste, como a Vale do Paraná, que possui outorgas para captar 107,5 bilhões de litros/ano, e o grupo Raízen Energia, parceria da Shell com a brasileira Cosan, que pode captar 115,3 bilhões de litros anualmente. 

Apenas quatro empresas “donas da água” pagaram mais de R$ 1 milhão

Além da Suzano, apenas outras três empresas “donas da água” pagaram mais de R$ 1 milhão pelo uso da água em 2022: a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra) e a Mosaic Fertilizantes. Somadas, essas empresas podem captar 239,2 bilhões de litros/ano e pagaram R$ 7 milhões pelo uso da água em 2022.

“Os valores cobrados ainda estão muito aquém de induzir um uso racional e muito aquém da capacidade de suporte de algumas empresas, ainda mais considerando que muitas delas têm uma captação de outorga bastante volumosa”, aponta Angelo Lima, da OGA Brasil. 

Para Lima, o avanço da gestão da água e a garantia de perenidade dos recursos hídricos dependem “de uma vontade do setor produtivo”. “Depende deles enxergarem para além do seu negócio, irem além das conformidades. É preciso ultrapassar os muros das fábricas. Diferente do que alguns setores pensam, ter gestão – incluindo a cobrança pelo uso dos recursos hídricos – é uma garantia de que vai ter água, dá maior segurança para quem investiu milhões em seu processo produtivo”, diz.

Outro lado

A Pública contatou a ANA e todas as empresas citadas nominalmente ao longo da reportagem. A autarquia não deu retorno até a publicação.

A Suzano afirmou que “que suas unidades operacionais captam volumes de água abaixo das outorgas concedidas” e que isso seria resultado do que a empresa chamou de “operação ecoeficiente de seus processos industriais”. Disse também que “está comprometida em seguir as melhores práticas de mercado para reduzir o consumo de água”. A companhia apontou que “possui representantes em todos os Comitês de Bacia existentes nas regiões onde opera, e cumpre integralmente todos os compromissos estabelecidos pelos Comitês, apoiando ativamente iniciativas determinadas, com ênfase na disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos”.

Em nota, a Eldorado Brasil Celulose afirmou que “mais de 86% da água utilizada [na produção de celulose] retornou ao rio em condições ambientais adequadas após passar por tratamento” e nos dez anos de operação teve “24% na redução de consumo de água para produção de celulose e reutilização de mais de 1.664.980 m³ de água das caldeiras para uso na lavagem de toras de madeira”.

A Mineração Rio do Norte (MRN) afirmou utilizar 20 milhões de metros cúbicos (20 bilhões de litros) por ano “em estreita conformidade com as outorgas de uso de água emitidas”. Apontou que isso “representa menos de 1% do volume total outorgável nas bacias hidrográficas onde opera” e que “não existem pagamentos pendentes referentes ao uso de água na empresa”. A MRN negou ter passivo ambiental com o Ibama e destacou seus compromissos socioambientais, afirmando que “os valores cobrados estão em discussão e se, eventualmente, se tornarem devidos, serão prontamente pagos”.

A Raízen Energia apontou que realiza “constantes estudos de corpo hídrico para que a captação de água seja compatível com a disponibilidade do recurso e ocorra de forma sustentável” e que, “no ano-safra 23/24, os recursos efetivamente utilizados limitavam-se a cerca de 6% dos recursos outorgados”. A empresa afirmou ter reduzido a captação de água de fontes externas no período de moagem em 11% e que pretende reduzir em 15% até 2030 e destacou não ter nenhum débito com a ANA. A Raízen também afirmou ter reduzido sua dependência de água e economizado 13,3 bilhões de litros desde 2015

Já a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) afirmou captar 80 bilhões dos 120 bilhões de litros de água que está autorizada a extrair e que “mais de 90% retorna ao rio Paraíba do Sul nas mesmas características da água captada ou em qualidade superior”. A empresa apontou que “o montante pago pelo uso da água contempla não somente a água captada, mas também o volume de água descartada e a parcela consumida (água evaporada)” e que os recursos são pagos à ANA “utilizando a metodologia e o preço de cobrança” definido pelo comitê de bacia local. A nota enviada pela CSN também destaca a “redução espontânea e proativa” no volume de água utilizado pela Usina Presidente Vargas (UPV), maior consumidora de recursos hídricos da empresa, ao longo dos últimos anos.

A Mosaic Fertilizantes destacou que participa de diversos Comitês de Bacias Hidrográficas e que “segue aquilo que é determinado nesses fóruns, inclusive no que se refere ao pagamento das outorgas de água”. A nota aponta também que a empresa “atua com responsabilidade e respeito em toda sua cadeia de valor, especialmente considerando as comunidades, adotando as melhores práticas de sustentabilidade”.

A íntegra das respostas de todas as empresas pode ser lida aqui.

A Vale do Paraná (Companhia Melhoramentos Norte do Paraná) afirmou que não vai se manifestar. A Cenibra não se pronunciou até a publicação.

Metodologia

Este levantamento se baseou inicialmente nos dados coletados na reportagem “Os donos da água: 50 empresas podem usar mesma quantidade que metade do Brasil”, cuja metodologia está explicada no final do texto;

Dos dados obtidos na reportagem supracitada, foram excluídos aqueles referentes a outorgas preventivas, restando apenas as outorgas de direito de uso. Dos 50 grupos empresariais citados na primeira reportagem, restaram 44, que podem captar 4 trilhões de litros/ano;

Paralelamente, foram extraídas planilhas com dados de cobrança pelo uso da água no ano-exercício de 2022 em comitês de bacia interestaduais. Parte desses dados está disponível no site da ANA e parte foi obtida via Lei de Acesso à Informação;

Em seguida, todas as companhias que são parte dos 44 grupos empresariais que vieram do primeiro levantamento foram buscadas na planilha com dados de cobrança pelo uso da água em 2022. A partir desse cruzamento, chegamos ao número de 22 grupos empresariais que pagaram pelo uso da água (em um total de R$ 20,9 milhões) e 22 que não pagaram;

Para chegar à média de R$ 0,05 por 10 mil litros, foram considerados os 4 trilhões de litros/ano de captação e os R$ 20,9 milhões que foram pagos em 2022.

Governo e bancada feminina da Câmara tentam aprovar Política Nacional de Cuidados

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O governo federal, em conjunto com a bancada feminina da Câmara dos Deputados, vem se articulando para aprovar a Política Nacional de Cuidados até junho deste ano, antes do recesso parlamentar. Fontes do governo afirmaram à Agência Pública que a proposta de projeto de lei elaborada pelo Executivo será enviada ao Congresso Nacional até o final de maio.

A proposta de Política Nacional de Cuidados vem sendo discutida formalmente pelo Executivo há cerca de um ano, quando, por meio de decreto presidencial, foi instituído um grupo de trabalho envolvendo 17 ministérios e entidades como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A demanda por um marco legal de cuidados é exigência antiga de movimentos da sociedade civil, que defendem a instituição da política como fundamental para a superação de desigualdades sociais.

Do lado do Legislativo, deputadas iniciaram um esforço concentrado para tentar colocar em pauta a votação de projetos sobre o tema. A articulação envolve muitas comissões, como a de Seguridade, a de Saúde, a da Mulher, a de Direitos Humanos e de Relações Exteriores – já que algumas normas convergem com tratados internacionais.

Um levantamento preliminar feito no Sistema de Informação Legislativa da Câmara dos Deputados, ao qual a Pública teve acesso, localizou 123 projetos relacionados à questão do cuidado tramitando no Congresso. As propostas abordam desde saúde mental da pessoa idosa e seus cuidadores a licenças parentais e são de autoria de parlamentares de campos políticos diversos.

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), relatora do grupo de trabalho que organiza essas ações sobre o assunto na Câmara, defendeu que o Estado e a sociedade devem reconhecer o cuidado como responsabilidade global. “O cuidado precisa ser reconhecido primeiro como um trabalho e ser reduzido do ponto de vista da demanda e sobrecarga na esfera privada. A gente até tem políticas que são pontuais, mas nunca é pensado de forma global.”

Economia do cuidado tem peso maior que agro e construção civil

A chamada “economia do cuidado” abrange ocupações com serviços domésticos, assistência social, educação, saúde e higiene, entre outras. Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) concluiu que profissões relacionadas ao trabalho de cuidado representam 13% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. O mesmo estudo apontou também que 65% desse trabalho é realizado por mulheres. 

“Não existe naturalidade, natureza nenhuma feminina que justifique isso”, alerta Bomfim. “É o machismo, a divisão sexual do trabalho que nos coloca nessa lógica do cuidado ser um fardo e não um direito, ou uma possibilidade. E essa discussão envolve uma disputa de concepção moral e política sobre o que é ser mulher na nossa sociedade. A extrema direita, por exemplo, principalmente aquela que se organiza nas igrejas evangélicas, trabalha muito com o tema porque ele é muito concreto na vida material cotidiana das famílias, por isso é tão importante que exista uma política de Estado”, concluiu.

No seminário “Cuidado como trabalho, cuidado como direito”, realizado no dia 9 de abril pela Secretaria da Mulher, movimentos e entidades salientaram a invisibilidade, desvalorização e superexploração desse tipo de trabalho. É o caso de Lúcia Helena Conceição de Souza, 65, líder da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad). Como trabalhadora doméstica, ela acumulou diversas experiências negativas. 

Assédios, ausência de remuneração e até alimentação escassa durante o expediente fizeram parte da sua vida profissional até os 22 anos, quando sua história começou a mudar. “Trabalhei onde não tinha comida, sofria assédio e, depois de muito tempo, conheci a associação de trabalhadores domésticos e comecei a entender sobre os meus direitos, cobrar por eles”, recorda.

Ela afirma que é comum a federação receber denúncias de casos de pessoas, principalmente em cidades do interior do país, que não são remuneradas por exercer profissões relacionadas a cuidados e que muitos profissionais passam anos sem saber que teriam esse direito.

“Uma vez fui trabalhar em um condomínio e comecei a falar com as trabalhadoras domésticas e cuidadoras de lá. Nós fazíamos reuniões para conversar sobre os nossos direitos e o patrão na sala, vendo TV, diminuía o volume para tentar escutar o que a gente tava falando”, lembra Souza.

Beco do medo: falta de segurança assusta estudantes de faculdade no DF

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Os estudantes de uma universidade particular da Asa Norte convivem com o medo, ao chegar e sair da faculdade. Assaltantes aproveitam da falta de policiamento em um beco, que liga a W3 a W4 Norte, e preparam emboscadas para os alunos que passam pelo local.

O beco fica na 707/907 Norte e conecta uma parada de ônibus à universidade. Na rua, há muitas árvores e, à noite, a iluminação é precária, facilitando a ação de criminosos.

Veja:


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O estudante de direito Mateus Meireles, 18 anos, conta que já foi assaltado no beco uma vez e presenciou uma cena semelhante na tarde dessa quarta-feira (17/4). “Estava com minha namorada quando vimos um homem vindo até a gente. Na hora de passar por nós, ele esbarrou e parecia estar muito nervoso e com pressa. Atrás da gente tinha uma menina sozinha, ele também esbarrou nela e a xingou de todas as formas possíveis”, disse.

Segundo Mateus, a atitude do rapaz era suspeita e ele chegou a avisar para a namorada que o homem provavelmente teria assaltado alguém. “Comentei com minha namorada que a atitude dele era de quem tinha roubado alguém, devido eu ter passado por isso também. Ele estava com raiva e com pressa. Eu nunca mais passo por aqui sozinho, pela experiência que eu tive”, relatou o jovem.

O estudante de direito conta que recebeu, no dia seguinte, mensagens de texto em grupos da faculdade alertando os alunos para tomarem cuidado, porque outros alunos haviam sido assaltados no local e o suspeito portava uma arma de fogo. “O suspeito que esbarrou em nós tinha por volta de 1,65m de altura, não era muito alto, vestia capuz e estava todo de preto. Hoje (18/4), recebi informações de grupos da faculdade avisando que algumas pessoas haviam sido roubadas por um rapaz com as mesmas características”, completou.

Daniel Elias, 24, estudante de psicologia, contou que também teve uma amiga que já foi vítima de roubo no beco. “Aqui na região temos que tomar cuidado, uma amiga minha também já foi roubada nesse trecho e o assaltante estava com uma faca. Também já soube de coisas parecidas na parada de ônibus de cima, em frente a uma rede de fast food”.

Duas funcionárias da universidade, que preferiram não se identificar, relataram que já viram muitos usuários de droga próximos ao local e que as ações dos bandidos costumam ser no final de tarde. “Já ficamos sabendo de muitos casos envolvendo roubo, geralmente, assaltam no período das 16h até a noite. Vemos diariamente usuários de drogas na região, eles roubam para conseguir mais drogas”, disse uma das funcionárias.

O Metrópoles questionou a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) sobre o número ocorrências recentes registradas na região, mas a corporação negou que tenha havido qualquer crime no local nos último dias. Por meio de dados coletados pela Subsecretaria de Gestão da Informação (SGI), e divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), é possível confirmar o número de crimes registrados em cada região administrativa do DF, mês a mês. Os últimos dados são de março.

Só em 2024, a Asa Norte foi palco de 226 roubos a pedestre, com emprego de violência armada (62 em janeiro, 91 em fevereiro e 73 em março). Sobre a quantidade de furtos, esse número é menor: 139 – 37 em janeiro, 64 em fevereiro e 38 em março. Foram registrados, também, 674 furtos de veículos no local. A SSP não detalha em qual quadra aconteceram os crimes.

Questionada, também, sobre a periodicidade de rondas feitas nas proximidades da universidade, a PM não informou como se dá a rotina de policiamento ostensivo na região.

 

 

“Caminhoneiros são essenciais para a economia nacional”, diz Renan Filho durante inauguração de ponto de descanso em Santa Catarina

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Ministro assinou portaria que estabelece uma política nacional de implantação dos PPDs em rodovias federais, além de entregar viaduto da BR-470/SC em Navegantes

Ministro Renan Filho inaugura primeiro PPD de Santa Catarina – Foto: Luiz Siqueira (MT)

 

A qualidade do descanso é fundamental para que caminhoneiros tenham viagens seguras pelas rodovias do país. Nesse contexto, o ministro dos Transportes, Renan Filho, inaugurou nesta quinta-feira (18) o primeiro Ponto de Parada e Descanso (PPD) de Santa Catarina, que fica no Km 220 da BR-101/SC. O local, administrado pela concessionária Arteris Litoral Sul, recebeu um investimento de R$ 17,5 milhões e beneficiará milhares de motoristas de transporte de carga que percorrem o trecho entre as capitais Florianópolis (SC) e Curitiba (PR).

 

Para o ministro, os PPDs garantem uma mudança na política de transporte do país. “Teremos mais 40 pontos de descanso no Brasil. Ao proporcionar áreas adequadas para repouso e descanso dos caminhoneiros, promovemos a segurança nas rodovias e valorizamos esses profissionais essenciais para a economia nacional. Esse é um passo significativo para melhorar as condições de trabalho e garantir viagens mais seguras para todos”, disse.

 

Ponto de Parada e Descanso (PPD) em Santa Catarina – Foto: Marcio Ferreira (MT)

 

O PPD de Palhoça é o pioneiro no estado, ocupando uma área de 39 mil metros quadrados e oferecendo uma gama de serviços essenciais para os motoristas. Sua estrutura inclui:

• Estacionamento com capacidade para 43 veículos
• Refeitório
• Copa
• Sala de descanso
• Sanitário
• Chuveiros
• Vestiário
• Ambiente monitorado

Política Nacional de Implantação de PPDs

Durante a inauguração, o ministro também assinou portaria que estabelece a política nacional de implantação de PPDs em rodovias federais. O objetivo da medida é garantir condições adequadas de repouso para os motoristas profissionais, aumentar a segurança nas estradas e reduzir o número de acidentes.

 

A portaria estabelece obrigatoriedade de implantação de ao menos um PPD nos contratos de concessão em vigor, priorizando sua operação até 2025. Além disso, a norma define que todos os estudos de projetos de concessão de rodovias devem incluir pelo menos um PPD, com previsão de operação até o terceiro ano de contrato.

 

Para rodovias sob gestão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) deve ser avaliada a possibilidade de implantação de PPDs, considerando critérios como demanda de tráfego e segurança viária, com prioridade para os principais corredores logísticos do país.

 

Benefícios

Com 21 anos de estrada, o caminhoneiro Márcio Ferreira considera que a inauguração do PPD de Palhoça trará uma mudança significativa em sua rotina de trabalho. “A segurança é o principal. Às vezes, somos roubados enquanto descansamos em postos de gasolina ou à beira da estrada. Estava acontecendo muito roubo. Agora, neste ponto, isso não é mais um problema, né? É realmente seguro. Além disso, tem banheiros para tomar banho e áreas de descanso. Vai ser muito bom”, afirmou. Márcio também menciona que no Sudeste, para onde também viaja com frequência, existem muitos PPDs e expressa sua satisfação em saber que seus colegas de profissão em Santa Catarina agora terão os mesmos benefícios.

 

“Antes, aqui no estado, costumávamos descansar em postos de gasolina, mas isso não oferecia segurança alguma. Esse ponto de parada vai nos ajudar muito. Tudo o que é feito para melhorar nosso trabalho é bem-vindo. Se isso for implementado em todas as rodovias, será ainda melhor”, disse Jorge Abreu, caminhoneiro de 58 anos que atravessa o trecho da BR-101 há mais de duas décadas. “Agora, posso trabalhar sabendo que vou descansar bem, tranquilo, com a certeza de que estou sendo monitorado e de que estou seguro”, concluiu.

 

Até 2012, o Brasil registrava cerca de 4 mil mortes de motoristas anualmente, muitas delas causadas por cansaço durante as viagens. Essa situação levou à necessidade de regulamentar o tempo de direção e a jornada de trabalho dos motoristas profissionais, visando reduzir o número de acidentes. Posteriormente, foram estabelecidas leis que definem limites de tempo ao volante e de repouso, destacando a importância das paradas.

 

Novo viaduto em Navegantes

De Palhoça, o ministro Renan Filho seguiu para Navegantes, onde inaugurou o novo viaduto na duplicação da BR-470/SC. Trata-se de obra essencial para aprimorar o fluxo de tráfego no ponto de encontro das BRs-470 e 101. Cerca de 100 mil motoristas que passam pela região diariamente serão beneficiados.

Com um investimento de aproximadamente R$ 25 milhões, o viaduto está localizado no Km 7 da BR-470/SC. Foi construído com pilares, vigas, rampas de acesso e recebeu pavimentação, sinalização, alças mais largas e curvas mais suaves. Situado na Foz do Rio Itajaí Açu, uma área estratégica para logística e transporte, a estrutura facilita o deslocamento de veículos de longa distância e melhora a mobilidade urbana.

 

O ministro Renan Filho ressaltou o volume de investimentos na rodovia. “Ano passado essa obra recebeu

R$ 290 milhões para sua sequência. É a obra que mais recebe investimento do Governo Federal em todo o Brasil. É um compromisso do presidente Lula com o estado de Santa Catarina”, destacou.

 

Essa nova obra faz parte do projeto de duplicação da BR-470/SC, que já está mais de 90% concluído, com 16 dos 73 quilômetros de extensão já duplicados e entregues. Ao longo do projeto, que abrange o trecho entre Navegantes e Indaial, o Ministério dos Transportes, por meio do DNIT, também entregou 46 quilômetros de duplicação, incluindo novos viadutos, pontes, vias marginais e acessos.

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Governo investe R$ 133 milhões para construir o primeiro hospital no Recanto das Emas

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Unidade amplia capacidade da rede pública em 100 leitos e terá atendimento nas áreas de clínica médica e pediatria. Obra vai gerar 750 empregos

Por Ian Ferraz, da Agência Brasília | Edição: Ígor Silveira

 

O Governo do Distrito Federal (GDF) vai investir R$ 133.701.000 para construir o Hospital Regional do Recanto das Emas (HRE). A autorização para a obra foi dada pelo governador Ibaneis Rocha durante evento na cidade nesta quinta-feira (18) e comemorada pela população de 150 mil habitantes.

A unidade vai ser destinada a atendimentos nas áreas de clínica médica e pediatria. Ao todo, 100 leitos vão compor o hospital, sendo 60 de clínica médica, 30 de clínica pediátrica e 10 unidades de internação intensiva (UTI) pediátrica.

O governador Ibaneis Rocha lembrou que, ao lado do viaduto já entregue, a obra do hospital era a mais pedida pelos moradores | Fotos: Renato Alves/Agência Brasília

O prédio terá área construída de 16.742,49 m² e a estrutura conta ainda com centro cirúrgico, apoio diagnóstico e terapia, apoio técnico de nutrição e dietética, farmácia hospitalar e Central de Material Esterilizado (CME), setores administrativo, logístico, e de ensino e pesquisa. Além disso, o HRE atende requisitos técnicos de tecnologia e meio ambiente, com energia fotovoltaica e reaproveitamento da água.

A construção, que vai gerar 250 empregos diretos e cerca de 500 indiretos, será essencial para complementar a rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Dados do Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF) apontam a necessidade da criação de leitos hospitalares na região, onde mais de 83% da população depende do SUS.

Ao autorizar a obra, o governador Ibaneis Rocha lembrou que, ao lado do viaduto já entregue, a obra do hospital era a mais pedida pelos moradores.

A construção, que vai gerar 250 empregos diretos e cerca de 500 indiretos, será essencial para complementar a rede do Sistema Único de Saúde (SUS)

“É uma necessidade que nós temos no DF de ampliar a nossa rede de serviços. Problemas não faltam. Enfrentamos talvez a pior crise sanitária da história do mundo, que foi a covid-19. Nós tivemos aí todas as unidades hospitalares voltadas para o atendimento à covid. Quando começamos a sair da crise em 2021, 2022, nós voltamos ao atendimento das cirurgias eletivas. Tivemos agora toda essa crise da dengue também, que lotou todas as unidades hospitalares. Compete a nós, que estamos à frente do governo, dar condições à população para que sejam atendidas. E é exatamente isso que nós estamos fazendo, ampliando todo o sistema de saúde”, disse Ibaneis Rocha.

Além da autorização para a obra no Recanto das Emas, o chefe do Executivo falou de outros equipamentos públicos, adiantou a construção de cinco unidades de pronto atendimento (UPA) e lembrou de reformas em andamento. “Esperamos na semana que vem assinar a ordem de serviço do Hospital do Guará, que vai melhorar muito a saúde daquela região. Não estamos cuidando só de novos hospitais, mas reformando e ampliando, como é o caso dos hospitais de Brazlândia e Planaltina”, acrescentou.

Para a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, a construção do hospital representa o atendimento a uma necessidade de uma cidade populosa. “Há muito se buscava que o Recanto das Emas tivesse esses leitos hospitalares. Essa cidade caminhava apenas com a atenção primária e com a UPA. É necessário mais, vamos começar com 100 leitos e poderemos chegar a 229 leitos”, destacou.

“Esperamos na semana que vem assinar a ordem de serviço do Hospital do Guará, que vai melhorar muito a saúde daquela região. Não estamos cuidando só de novos hospitais, mas reformando e ampliando, como é o caso dos hospitais de Brazlândia e Planaltina”

Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal

Já o presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Fernando Leite, destacou a grandeza do equipamento público. “A última obra desse porte no DF faz praticamente 16 anos. Essa é a data que o último hospital foi entregue na capital. Então, nós vamos agora reescrever a história da saúde. E esse é o primeiro passo. Teremos um hospital moderno, com 100 leitos, e faremos outros três nesse porte, que é o do Guará, São Sebastião e Gama”, disse.

Mais saúde para o Recanto

Em 2020, a população da cidade ganhou a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Quadra 804, que beneficia, diretamente, cerca de 20 mil pessoas. O investimento foi de R$ 2,3 milhões. A região administrativa conta com outras quatro UBSs e uma unidade de pronto atendimento (UPA).

Com o hospital, espera-se que a região administrativa se torne independente em relação a outras vizinhas, como aponta o administrador Carlos Dalvan. Segundo o gestor, os moradores precisam recorrer ao Hospital de Taguatinga e Hospital de Base quando necessitam de um atendimento de maior complexidade.

“É a obra mais esperada da história do Recanto das Emas. O hospital vem para atender e para completar nossa rede de atendimento. Temos UBS, temos UPA, mas faltava o hospital. E muitas vezes a nossa UPA não consegue atender a comunidade da forma que a gente gostaria, com a velocidade, com a rapidez, pela falta de um hospital”, opina.

Hospital que vem para aliviar o atendimento de quem mora na cidade, a exemplo do comerciante Luiz Carlos Araújo, 58 anos. “É de grande importância porque nós ficamos dependendo só desses postos. É ótimo que ele seja construído para melhorar o atendimento da população que sai daqui para outra cidade satélite e procura um hospital, né? Quanto mais atendimento, mais área abranger, melhor”, afirma.

 

Fonte: Agência Brasília

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DF tem 2 bebês sob custódia junto às mães em unidades prisionais

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A Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia, tem duas bebês que estão sob custódia do Estado junto às mães que cumprem pena dentro da unidade prisional. Os recém-nascidos estavam no hospital e estavam com alta médica prevista para essa quinta-feira (18/4). As crianças voltariam com as genitoras para o presídio, mas a Justiça pode conceder liberdade provisória ou prisão domiciliar com monitoramento para as mulheres posteriormente.

O Metrópoles entrou em contato com Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF) para entender detalhadamente as condições médicas em que se encontram as crianças e bebês. O órgão indicou que a Colmeia tem uma ala específica para gestante e outra para lactantes, onde permite a custodiada amamentar a criança até, pelo menos, o sexto mês de vida.

Nas alas, há instalações com estrutura necessária para que as mães possam oferecer cuidados maternos aos filhos. O berçário tem 22 vagas com beliches, berços, local de higienização para os bebês e banheiro coletivo com chuveiros quentes. O setor para gestantes são 24 vagas com beliches, de acordo com a secretaria do DF.

Bebês em prisões

Informações do painel de dados estatísticos da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), indicavam que havia três bebês e crianças dentro do presídio do DF até dezembro de 2023. À época, existiam, também, 20 mulheres gestantes e parturientes, que passaram por trabalho de parto recentemente, além de outras três lactantes no local.

Considerando todo o país, segundo a Senappen, havia 99 crianças e bebês vivendo em estabelecimentos penais brasileiros até dezembro de 2023. Na época, eram 230 gestantes e 103 lactantes.

A Sennapen aponta que o número de filhos de presas vivendo nas celas do DF começou a diminuir a partir do primeiro semestre de 2020. Antes disso, o número variava entre seis e 14 crianças, sendo que a maior quantidade foi registrada no final de 2019.

Visita do CNJ

Em 2018, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou uma série de visitas em presídios femininos de todo brasil. Foram analisados 22 estabelecimentos penais, em 15 estados e no Distrito Federal, verificando o tratamento dado aos bebês, às gestantes e às lactantes. Na época, a dificuldade no acesso à saúde da mãe e da criança foi constatada em todos os presídios femininos visitados.

A equipe do CNJ encontrou mães e bebês em acomodações precárias e recebendo alimentação inadequada, além de unidades com crianças ainda sem o registro de nascimento. Na maioria dos locais visitados, constatou-se não haver ginecologistas ou obstetras acessíveis para o atendimento pré-natal das grávidas, nem pediatras disponíveis para os recém-nascidos que vivem nas cadeias brasileiras.

“No Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF), apesar da política de inserção social ser um ponto positivo do presídio (dezenas de detentas trabalham e estudam, conseguindo remição da pena), a equipe do CNJ ouviu queixas das mulheres privadas de liberdade em relação ao descaso com os acompanhamentos médicos e com a qualidade da alimentação”, afirmou a instituição.

O conselho constatou baixa qualidade da comida e falta de fiscalização em relação à dietas oferecidas às lactantes, aos bebês e às grávidas. Sopa com muita gordura; com muito sal; marmita estragada ou sem cozimento adequado, foram os problemas mais lembrados. “O frango quase sempre chega cru. Ou você come, ou fica com fome. Não há substituição, nem quando está estragada”, relatou uma das presas na época.

Tratamento e cuidados no DF

A Seape garante que, atualmente, todas as unidades prisionais do DF têm pronto atendimento com profissionais da Secretaria de Saúde do DF. Isso inclui trabalhadores de assistência médica, clínico geral, psiquiatria, fisioterapia, psicologia, assistência social, odontológica, enfermeiros e terapeutas ocupacionais. No caso da unidade feminina, além dos outros profissionais, há assistência especializada em ginecologia e pediatria.

Todas as custodiadas grávidas e mães com filhos menores de 6 meses recebem o enxoval completo, fornecimento de materiais de higiene para mãe e filho tais como fraldas descartáveis, sabonetes infantil e adulto, pomadas, banheira infantil de plástico, sabão em pó e em pedra para lavagem do enxoval, absorventes entre outros.

A secretaria também apontou que a alimentação disponibilizada para esse público é adequada. Para aquelas crianças e gestantes que necessitam de complementação alimentar, são também fornecidos: leite, sopa infantil e fruta.

O acompanhamento do pré-natal é realizado na própria Penitenciária Feminina, por equipe do Núcleo de Saúde, exceto em casos de gravidez de alto risco, que são encaminhados à rede hospitalar pública.

Caso a mãe tenha sido presa após o nascimento de uma criança menor de seis meses de idade, o filho poderá usufruir dos seus cuidados e do suporte da penitenciária até o prazo permitido.

Legislação sobre crianças dentro das cadeias

O artigo 5º, parágrafo L, da Constituição Federal configura como direito fundamental que “às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação”. O dispositivo legal ainda é reforçado por norma específica, a Lei de Execução Penal (LEP), instituída em 11 de julho de 1984.

“Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade”, aponta o artigo 83 da LEP. A lei obriga que as prisões em questão deverão possuir, exclusivamente, agentes do sexo feminino na segurança de suas dependências internas.

Em 2009, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), obedecendo recomendações de grupo de trabalho interministerial, emitiu resolução para garantir a permanências das crianças junto as suas mães.

“A presença da mãe nesse período é considerada fundamental para o desenvolvimento da criança, principalmente no que tange à construção do sentimento de confiança, otimismo e coragem, aspectos que podem ficar comprometidos caso não haja uma relação que sustente essa primeira fase do desenvolvimento humano”, diz a resolução.

O documento também aponta: “Após a criança completar um ano e seis meses deve ser iniciado o processo gradual de separação que pode durar até seis meses, devendo ser elaboradas etapas conforme quadro psicossocial da família”.

As fases do processo incluem a presença na unidade penal durante maior tempo do novo responsável pela guarda junto da criança; visita da criança ao novo lar; período de tempo semanal equivalente de permanência no novo lar e junto à mãe na prisão e visitas da criança por período prolongado à mãe.

O período máximo para a permanência das crianças varia de acordo com diretrizes dos presídios, legislações estaduais e condições específicas. O prazo, no entanto, respeita normalmente o limite de dois anos.

Família faz vaquinha para custear fórmula infantil de bebê desnutrido

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A família do pequeno Gabriel Portela Gomes, 2 anos, está realizando uma vaquinha virtual para custear as despesas com a fórmula infantil que o menino precisa para se alimentar. Vítima de maus-tratos pelos pais biológicos, a criança está sob guarda da irmã mais velha, que luta para garantir uma melhor qualidade de vida para ele, apesar das dificuldades financeiras.

“Os pais biológicos têm muitos problemas e foram negligentes em relação aos cuidados de Gabriel. Quando o resgatamos, com 1 ano e 3 meses, ele estava quase em estado vegetativo, com pneumonia, desidratação, estrábico e com deformação na cabeça. Ele passava o dia deitado em um berço, sem se mexer”, relata Larissa Neves, 34 anos, prima da criança.

Por conta do estado em que foi encontrado, Gabriel ficou mais de dois meses internado no Hospital Regional de Sobradinho para se tratar. Diante da situação, a Justiça do DF concedeu guarda definitiva do menino para a irmã mais velha.

“A irmã por parte de pai que está com a tutela dele não tinha contato com Gabriel até saber do ocorrido. Porém, assim que tomou conhecimento da situação, quis cuidar dele. Ela também já é mãe, de outras três meninas”, diz Larrisa.

Segundo a prima, o menino precisa de cuidados especiais em razão do estado de debilitação em que foi encontrado. “Ele é um bebê com a imunidade baixa e  teve desnutrição grave, que tem dificuldade de deglutir os alimentos, agora que começou a introdução alimentar. Atualmente, ele ainda usa fralda e teve alguns atrasos de desenvolvimento, como falar e andar, por causa da falta de estímulos no começo”, detalha.

A família estima que o menino precise de 12 a 14 latas da fórmula infantil Infantrine por mês, tendo em vista o baixo peso. O custo estimado do produto alimentício é de R$ 180 reais cada lata.


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“Inicialmente, nós conseguimos o apoio da Secretaria de Saúde do DF para que eles repassassem o alimento. Porém, como Gabriel foi morar em Planaltina de Goiás com a irmã, ele parou de receber o benefício. Agora, dependemos de doações para conseguir custear essa fórmula. Esta é a única que ele se adaptou”, explica Larissa.

De acordo com Larissa, a família é carente e precisa de doações para conseguir atender todos os cuidados que Gabriel precisa.

“A gente ajuda como pode, mas tem muitas coisas que precisamos pedir o apoio de doações. É uma família que precisa de ajuda com cestas básicas, roupas, fraldas e medicamentos para o Gabriel”, diz.

Atualmente, a criança faz acompanhamento regular com a pediatria, gastropediatria, genética médica, hematologia, neuropediatria e cirurgia pediátrica pela rede pública de saúde do DF. Além disso, também necessita de nutricionista, fisioterapia, terapia ocupacional, estimulação precoce e fonoaudióloga.

Quem tiver interesse em ajudar Gabriel, a família está recebendo doações de dinheiro por meio da chave pix 065.419.881-02 (Juliana).

 

Ditadura no Brasil enviou indígena ativista para campo de concentração

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Quando veio para Brasília apresentar reivindicações à direção da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em plena Ditadura Militar, Oscar Guarani se desentendeu com um general que já havia dado ordens expressas de “não querer índio nos corredores”. O indígena não aceitou o impedimento e forçou a entrada na sede. Não conseguiu falar com o general Bandeira de Mello, responsável pela gestão da Funai de 1969 a 1974, mas “ganhou” uma passagem para prisão indígena criada durante o regime ditatorial, conhecida como Crenaque ou Krenak, localizada em Minas Gerais.

“Qual foi o seu crime? Foi a Brasília apresentar reivindicações à direção da Funai”, afirma relato que consta no documento “A Política de Genocídio contra os Índios do Brasil”, enviada ao Tribunal de Russel II, em 1974. A corte em Bruxelas (Bélgica) analisava os crimes de guerra que ocorriam em países latinoamericanos naquele período. O documento de 50 páginas elaborado por antropólogos brasileiros denunciava corrupção, tortura e assassinatos cometidos pelo governo da época contra a população indígena. Entre as acusações, ficou comprovado que a ditadura militar criou prisões com trabalho forçado e tortura para a população indígena.

A vida de Oscar Guarani é um relato pequeno dentro de tantos apresentados nos documentos e falta detalhes específicos, como a data exata em que a detenção do indígena ocorreu. No entanto, o texto também revela que a prisão destinada ao indígena se tratava de um “campo de concentração”. Após três anos preso, Oscar havia perdido 30 quilos – saindo de 90kg para 60kg – e com marcas de tortura pelo corpo.

“Os índios presos são obrigados a um regime de trabalho forçado, são colocados em prisões, isolados uns dos outros. E recebem espancamentos e torturas”, detalha o documento. A denúncia dos antropólogos apontou ainda que jovens indígenas eram levados a Crenaque para que fossem treinados para a “Guarda Indígena”.

“Eram instruídos por policiais de acordo com a mentalidade policialesca do regime, os resultados têm sido os piores possíveis. Armados e fardados, os jovens voltam prepotentes às aldeias, contestam a autoridade dos chefes, prendem, espancam e exploram seus irmãos. Julgam que os outros índios têm de trabalhar para eles. Enfim, estabelecem o terror, criando um clima favorável às manobras”, classifica. A Guarda Rural Indígena (Grin) foi extinta em 1974, após oito anos de funcionamento.

Um dos registros da formatura da Guarda Rural Indígena foi feito pelo indigenista Jesco Von Puttkamer, em 1970. Em uma das cenas que ficou salva no filme Arara mostra um indígena sendo carregado em um pau-de-arara em desfile por Belo Horizonte.


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“Brasília era o único recurso”

“A ditadura foi um período extremamente agressivo para a população indígena”, declarou o indigenista Haroldo Heleno, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). “Os militares viam os indígenas como um empecilho para o suposto desenvolvimento do Brasil”, destacou.

O pesquisador reforçou que a ação de Oscar Guarani ao reivindicar direitos diretamente à Funai ocorria porque “Brasília era o único recurso”.

“Nas comunidades locais, existia outros ataques, como de fazendeiros. As lideranças achavam que o serviço da Funai seria o caminho para ver as denúncias para o povo”, afirmou. No entanto, a capital pregava uma arapuca e quem pedia o mínimo de defesa era encaminhado à prisão.

“No período da ditadura, até mesmo os órgãos que deveriam ser de proteção aos povos indígenas foram extremamente violentos, usados inclusive para fazer esse processo de retirada de direitos dos povos”, completou.

Torturas

A Comissão Nacional da Verdade colheu depoimentos de outros indígenas que, assim como Oscar Guarani, foram trancafiados no reformatório Krenak. O local chegou a aprisionar 121 indígenas de acordo com o documento da CNV.

“Amarravam a gente no tronco, muito apertado. Quando eu caía no sorteio ‘prá’ ir apanhar, passava uma erva no corpo, ‘prá’ aguentar mais. Tinha outros que eles amarravam com corda de cabeça ‘prá’ baixo. A gente acordava e via aquela pessoa morta que não aguentava ficar amarrada daquele jeito”, disse o indígena Guarani-Kaiowá Bonifácio Duarte à comissão, em 2014 – 40 anos após as torturas sofridas.

Oredes Krenak também depôs à comissão e denunciou a violência que sofreu no “reformatório”.

“Bater era normal para eles. Se o índio tentava se justificar por alguma acusação, batiam com cassetete grande, depois jogavam na prisão. Não podiam nem perguntar por que estavam sendo punidos. Também batiam de chicote. Algemavam o preso dentro da cadeia e ele não podia falar, argumentar. Ameaçavam com arma. Os mais antigos contam que quando matavam um índio, jogavam no rio Doce e diziam pros parentes que tinha ido viajar”, declarou.

Reconhecimento

Os relatos ficaram registrados no extenso material da Comissão Nacional da Verdade, publicado em 2014, 50 anos após o golpe militar. A elaboração do documento levou dois anos e sete meses de investigações sobre as violações de direitos humanos no período. O relatório apontou que ao menos 8.350 indígenas foram assassinados e tantos outros sofreram violências e abusos de toda ordem no regime.

Em 2021, a 14ª Vara Federal Cível, em Minas Gerais, condenou a União, Minas Gerais e a Funai pelas graves violações dos direitos humanos de povos indígenas ocorrida durante a ditadura militar, com a criação do reformatório indígena e da criação da guarda rural.

Ainda assim, apenas em 2024 – 10 anos após a publicação do relatório pela CNV e 60 após o golpe militar – que a Comissão de Anistia, formada desde 2002, concedeu reparação coletiva a dois povos indígenas pela perseguição sofrida durante a ditadura militar. Na sessão, o colegiado analisou os pedidos de reparação referentes aos povos Krenak, de Minas Gerais, e Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul.

Em 19 de abril, é comemorado o Dia dos Povos Indígenas no Brasil. A data serve para celebrar a diversidade dos povos, mas também para refletir sobre a população. O pesquisador do Cimi Haroldo Heleno destacou que as violências sofridas pela população, infelizmente, não ficou preso em um período na história.

“Esse passado deixa marcas que se aprofundam e que se repetem nos dias atuais. Hoje continua acontecendo violência contra a população indígena, com apoio de produtores de terra e com formação de milícias”.